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Entrevista

“Esta coisa a que chamamos vida passa num instante, por isso, não há outra opção senão fazer aquilo que nos motiva”

“Esta coisa a que chamamos vida passa num instante, por isso, não há outra opção senão fazer aquilo que nos motiva”
Licenciado em Comunicação Social, esteve mais de 12 anos ligado ao Marketing e à Comunicação, nomeadamente na Política. E como nunca é tarde para mudar de vida, há cerca de três anos percebeu que deveria ser CEO no seu projeto pessoal: impactar positivamente o maior número de pessoas, através do humor. Miguel Lambertini vai apresentar a 19.ª edição do Troféu Call Center, que se realiza a 13 de novembro, mas antes contou-nos o que podemos esperar da peça ‘Os Profissionais’, prestes a estrear no Casino Estoril.

Como é que alguém da Comunicação, que fez uma incursão pela política, passa a ser humorista? O que te levou a mudar de vida assim tão drasticamente?
Bom, antes de mais dizer que eu tive uma incursão política é pejorativo para quem faz política à séria e, pensando bem, para mim também porque indicia que houve um período da minha vida em que fui político. Por isso se o objetivo desta entrevista é denegrir o meu bom nome, se calhar ficamos por aqui. Peço desculpa, vamos continuar, até porque eu não tenho nada para fazer até ir buscar o meu filho à escola e assim sempre desfruto da sua companhia.

Na realidade, a política é uma fonte inesgotável de material para quem trabalha com humor, pelo que talvez até não tenha sido assim tão mau do ponto de vista criativo. O que me levou a mudar de vida foi constatar precisamente que esta coisa a que chamamos vida passa num instante e por outro lado é um privilégio enorme, por isso não há outra opção senão fazer aquilo que nos motiva e pelo caminho tentar deixar uma marca positiva nos outros. Felizmente posso dizer que o impacto e o retorno que obtive nestes primeiros dois anos supera bastante as minhas expectativas iniciais, mas principalmente as da família e amigos que achavam que eu ia tornar-me num sem-abrigo.

 

Qual foi a sensação de pisares um palco pela primeira vez? Foi aí que percebeste que querias fazer do humor a tua vida?
Sempre soube que a minha vida passaria pelo humor e pela representação, porque desde cedo percebi que fazer rir as pessoas à minha volta era das coisas que mais prazer me dava. Como nunca fui um aluno brilhante, nem nunca soube dar toques numa bola de futebol, o humor ajudou-me sempre a sentir-me integrado. Não me lembro muito bem da primeira vez que subi a um palco, porque sei que tinha 5 ou 6 anos. Foi numa peça de teatro do colégio, que se chamava o “Menino do Algodão Doce”, eu era esse menino que ia comprar algodão doce (um enredo extremamente complexo, como se vê) e lembro-me da sensação de perceber na reação dos outros que aquilo era algo que eu fazia bem.

Entre esse primeiro momento e a tomada de decisão oficial, passaram demasiados anos, até que um dia cheguei a casa e disse à minha mulher que ia despedir-me para ser actor e comediante. Até hoje não me arrependo e o mais incrível é que continuo casado, por isso acho mesmo que valeu a pena.

 

As pessoas entendem sempre as tuas piadas? Os portugueses ainda são muito sensíveis a determinado tipo de humor?
Há muitas formas de fazer comédia. Pessoalmente sou adepto do sarcasmo, uso frequentemente e admito que por vezes não seja uma fórmula tão direta como outro tipo de abordagens. Certamente que já houve pessoas que não entenderam uma piada que tenha feito e outras que por alguma razão se sentiram incomodadas. É perfeitamente normal porque a forma como cada um de nós reage a uma determinada piada depende sempre do contexto e da própria vivência de cada um. No meu trabalho humorístico, seja nas crónicas que escrevo, em simples piadas nas redes sociais, ou num guião para um programa de televisão, a maior parte do meu esforço é direcionada para fazer a melhor piada que conseguir e não ceder à tentação de escrever a primeira ideia que vem à cabeça, isso é para mim o mais importante. Claro que tenho sempre presente que poderá haver alguém que não ache graça, mas isso não pode ser foco de um humorista, porque dessa forma não escreveria nem uma linha.

Recentemente estreaste um programa no canal Q. Fala-nos um pouco do conceito e como está a ser recebido?
O programa chama-se “As Receitas do Chef Bernas” e a ideia base foi fazer uma sátira aos programas de culinária – o ambiente, os trejeitos, a linguagem – mas também a uma das obsessões atuais do mundo do marketing e gestão de marcas que é o product placement. Felizmente pude contar com o apoio do Canal Q que se interessou pelo projeto e foi incansável a reunir as condições necessárias para dar vida a este devaneio da minha cabeça, que está a ter uma ótima resposta junto do público.

 

O Bernas é uma personagem controversa e divertida porque é aquele jovem-adulto imaturo, com um background familiar privilegiado que acha que ser Chef e ter um programa na televisão dá-lhe imenso prestígio, mas acima de tudo sucesso junto do público feminino. Esta postura é sempre contraposta pela personagem da Sandra Santos, a responsável de marketing da “agência de viagens” que “patrocina” o programa, que tenta ao máximo que a imagem da marca não seja prejudicada, ao mesmo tempo que vai confrontando o Chef com as suas atitudes e declarações despropositadas. É esta dinâmica entre os dois que vemos desenvolver-se ao longo da série, com bastantes peripécias em cada um dos episódios – porque há uma continuidade na história e um subplot – que vai divertir e prender o público.

Este mês estreias também um espetáculo. Onde vai ser, até quando é que as pessoas podem ir assistir e onde é que podem comprar bilhete? Sim, nos dias 25 e 26 de outubro estarei juntamente com a Abbadhia Vieira e a Mónica Vale de Gato no auditório do Casino Estoril, com a peça “Os Profissionais” e voltaremos em dezembro, como parte integrante do Festival Luso Brasileiro de Comédia. Trata-se de uma comédia sobre o mercado de trabalho que esteve em cena no Brasil com enorme sucesso durante dois anos, e que agora adaptamos ao mercado português também. A peça procura, através do humor, melhorar o ambiente de trabalho e aproximar colaboradores, chefias e novos funcionários, dando vida a situações do mercado laboral que todos conhecem, desde a festa de Natal às horas de almoço, falando de todas elas com sentido de humor. Entre os três, interpretamos 35 personagens, desde chefes, a novos funcionários, passando por uma panóplia de trabalhadores-tipo dos quadros das empresas. Qualquer semelhança com a realidade será pura coincidência, por isso venham ver “Os Profissionais” e tragam o vosso chefe! Os bilhetes estão à venda na Ticketline.

 

Vais também apresentar os Troféu Call Center. O que podem esperar as pessoas que vão estar presentes na cerimónia?
Julgo que vai ser um momento descontraído de celebração e convívio entre profissionais que se preocupam diariamente em oferecer uma boa experiência aos seus clientes. Pela minha parte podem contar com o mesmo, e eventualmente com uma ou duas questões rápidas, sobre o porquê de não conseguir apanhar sinal de wi-fi na casa toda, ou qual a melhor forma de descalcificar a minha máquina de café. Há que aproveitar a audiência, não é verdade?

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